quinta-feira, 31 de maio de 2012



O PRINCÍPIO DO FIM 

Hoje. Hoje. Hoje comecei a matar-te. Vou desfazer, bocado a bocado, cada pedaço de memória. Vou esmigalhar a imagem do teu rosto. Vou pisar vezes sem conta as recordações do teu corpo. No meu corpo. Vou destruir infinitamente todos as horas, minutos, segundos em que te amei. Vou meter-te numa caixa com fechadura e vou colocá-la num lugar inatingível onde ninguém possa tocar e onde morrerás lentamente, lentamente, a chamar por mim. Ou melhor, vou abrir uma cova bem fundo e enterrar-te lá. Cobrir-te-ei então de pedaços de tudo e de nada para que não consigas voltar a perturbar-me. Nunca. Nunca. Nunca.


Carmo Miranda Machado

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