A maçã que se confundiu com um Adão
Uma maçã pode achar-se a crescer e
viver enquanto laranja. Isso não a fará ser menos maçã. No
máximo, ela perderá a noção do ser que é, confundindo igualmente
as suas irmãs maçãs por laranjas, dado essa ser a única forma de
ela acreditar estar mesmo numa laranjeira.
De tanto as tratar como tal, as outras
maçãs parecerão igualmente convencidas de que são laranjas e
todas confundirão a macieira que lhes dá vida como sendo uma
laranjeira.
Por trás de todos estes filmes está
uma linda macieira, indiferente às desilusões da sua maçã.
Alimentando-a, dando-lhe todo o amor que precisa para crescer.
Eu não sei quem tu és. Se soubesse,
também saberia quem sou. Mas tenho a certeza de que não és nem uma
laranja nem uma maçã.
Como poderá a verdade acerca de mim
próprio ser-me revelada se continuo a dar crédito às minhas
ilusões de quem os outros são? É impossível eu não beber das
mesmas ilusões. Acreditar nas ilusões dos outros é fazê-las
minhas, não porque são dos outros, mas porque o outro é desde logo
uma ilusão minha. Eu só saberei quem realmente sou,
quando recusar todas as ilusões acerca de quem são os outros, sem
excepções. Não adianta dizer-me maçã, fruto de uma linda
macieira, se quando olho em volta só vejo laranjas.
Duarte
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