O mercador de palavras
Ameixa a dissolver na boca gulosa,
derramado, um doce líquido se espalha, feito tinta coagulada.
A boca, pois, degusta outra fruta, do
degustar contínuo cresce a fome descontrolada, de boca em boca,
todas cheias, saem verborreias condicionadas, com convenção e
política exatas. São postos, então, terno e gravata. Poderes estão
sempre alimentados, saciados em prol do bem-estar do corpo social.
Dirigidos para decência do espetáculo,
quando famintos, apurados os fatos, há sempre um condenado, bode
expiatório, subordinado em flagrante autuado – o poder sempre quer
mais sem mea culpa. Conjuga-se o verbo em qualquer tempo, apodrecidos
os frutos, lançam-se novas sementes ao vento, o capital se apodera
da poesia, da flor, do belo recolhido em pensamento.
Manuela Barreto (Brasil)
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