sexta-feira, 22 de junho de 2012

SETE PROSAS SURREALISTAS (IV)


Sou...

Sou um homem, uma vaga nocturna, um espelho retorcido, uma miragem definida que busca um oásis perdido no epicentro da árida normalidade. Sou uma inebriada meditação, uma concepção esquecida, uma extasiada reflexão. Um desastre sociológico. Aparo lápis com as têmporas, mordo a realidade. Também derreto madrugadas, por vezes. E relógios, e ponteiros. Sou um atraso pontual, um crime incendiário. Banho-me com insónias, barbeio-me com furor. Porque as palavras envoltas em ferocidade ceifam-me os dias lentos. E inscrevem-se na linha dos sentidos, numa qualquer página distante.
 
 
Bruno Vilão

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