sábado, 22 de setembro de 2012
Crónica Benzodiazepina
Nostalgia de Outono
O cheiro das castanhas assadas continua a impregnar o ar e os nossos sentidos nos fins de tarde dourados de Outono. Ainda são “quentes e boas” na minha memória mas deixaram de o ser nos pregões extintos dos vendedores. “Um cartuxo de castanhas, por favor.”, e já não me chega às mãos uma embalagem improvisada nas páginas de uma velha lista telefónica. “Não é higiénico.”, dizem os senhores de Bruxelas. E nós, nós obedecemos aos senhores de Bruxelas. As castanhas ainda são lusas, vindas de um qualquer souto centenário que teima em escapar incólume às chamas que, ano após ano, consomem Portugal.
Sinto o cheiro quente das castanhas assadas na rua. Mais à frente está o vendedor. O fumo denuncia-o. Fecho os olhos e num instante regresso aos dias leves da adolescência. “Um cartuxo, por favor”, peço com um sorriso enquanto deliberadamente deixo cair o estojo junto de um homem elegante que aguarda a sua vez. “É velho para ti”, sussurra uma amiga. O homem entrega-me o estojo e eu agradeço-lhe com um sorriso rasgado e um olhar coquete. Pago ao vendedor e respondo serenamente à minha amiga: “É homem!”. Não expliquei mais nada. Nem sabia. Praticávamos por instinto a arte que acabáramos de descobrir.
Missanga
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