segundo esquerdo
fecho os olhos
— ninguém em redor para me ouvir
chorar.
transformei numa casa impenetrável as
palavras mais silenciosas
que encontrei pelo caminho
ou que me escolheram
abrindo-me
portões pesados
rangendo o seu cancro de metais
brilhantes
incandescente
solidificados numa sebe áspera e
escura
uma fome opaca
de tão espessa impossível de se ouvir
menos ainda ver para dentro
agora paro,
paro de sonhar com ruas a que não
pertenço
paro de inventar vizinhos com vista
para o coração em ruínas
assumo finalmente o sangue a entupir
o escoamento do terraço
assumo as vertigens da loucura
panorâmica
o desespero imóvel da vida
paro de chorar
e admito
que no lugar que habito não existem
áreas comuns
o meu prédio é a solidão
segundo esquerdo
Renato Filipe Cardoso
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