As estações só existem fora de casa
Com esta idade, ainda não sei dizer qual a estação do ano de
que mais gosto. Isto pode dizer muito de uma pessoa. Gosto das quatro
como as conheço. São belas e à sua maneira todas conseguem ser
insuportáveis. Não há ninguém que maldiga das chuvas de Verão.
Sabem tão bem. Há tempos ouvi maltratar a Primavera, porque lhe
despenteava os cabelos e pingava quando não se está à espera... O
Outono é doce, é a estação da marmelada e da geleia de marmelo,
mas às vezes isso enjoa. Gosto da secura do Verão, é difícil o
Verão e isso cheira bem, mas não imagino ninguém a escrever poesia
ou filosofia no Verão. Como são deliciosas as sombras do Verão. O
Inverno sabe muito bem em duas ou três situações: logo no início
e quando se está fora dele, ou o vemos passar à janela. Gosto da
expressão 'os rigores do Inverno' e parecendo o contrário, é uma
estação muito calorosa. Custa-me um bocadinho grafá-la sem
maiúscula, é a que mais me custa. Lembro-me de ir para a faculdade
de gola alta e casaco e agora há ar condicionado em todo o lado.Quem
se atreve a usar gola alta, fora das estepes da Mongólia? A verdade
é que as estações quase só existem na rua. Vivem pelas ruas, sem
abrigo, que é como deve ser, mas é uma perda não as deixarmos
entrar pela casa, nem nas casas por onde andamos, nem nos carros ou
nos transportes. Ficam à porta. Saímos da rua e mudamos para um
ambiente que não é nada, porque não é o morno ou o fresco que
fazem as estações. A temperatura é apenas o mote. Entra, Verão,
entra! Bebes alguma coisa? Quero que te sintas em tua casa!
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