sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A CAGADA DE BAIXO - BLOGONOVELA EM CINCO EPISÓDIOS (IV)


A CAGADA DE BAIXO

IV

Passei uma semana à sombra dos riscos do pano do Sousa e do Esteves. Foi uma semana em cheio. Aprendi muito: a salsa tem de ser capada; o melhor vinagre é o de vinho tinto; no Sporting falta “humidade” aos jogadores; o genro do Jesus, o do Benfica, vai ao mesmo barbeiro que o Tó Esteves; o Pinto da Costa é que havia de ser o primeiro-ministro – com ele ganhávamos tudo e não se pagava nada ao fisco; o tinto da Pampilhosa é dos melhores tintos que se bebe, entre a Sertâ e Coimbra; a loiça deve ser esfregada com areia antes, para não gastar tanto sabão; o Nodi é bombeiro; a filha do vizinho dos Esteves andava metida com um apresentador da tê-vê; o Toni Carreira também é filho da Pampilhosa (de uma aldeia lá perto); O Micael é filho do Tóni; a Sandra é uma cabra, anda sempre a fazer olhinhos ao Tó; o Sousa esteve no funeral do Salazar e quem levava a urna do “Botas” era o Otelo Saraiva de Carvalho; o Marcelo é que deu boas reformas aos Guardas; a professora lá da aldeia é doida – anda metida com o filho dos Samarras, rapaz corpulento e bem parecido sem jeito para as letras mas com muita queda para mulheres; o Hugo tem um aipede que o pai (chofer de um senhor do governo), lhe ofereceu pelo Natal; a rapariga que faz limpeza na Junta da Cagada de Baixo, acumula com algumas horas a sós com o presidente no gabinete deste; e mais um sem-fim de conselhos e informações úteis para quem quer viver neste mundo.

Sic transit gloria mundi e convém que andemos a par das modas. No melhor (como no pior) pano cai a nódoa, seja gordura ou outra porcaria, absorve-se com farinha e lava-se com sabão azul e branco, segundo a Cecília. As nódoas do fato são fáceis de apagar e fazem a alma ficar mais bonita, mais leve.


Joshua Magellan

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