Menarquia fúnebre (Uma vida que finda
como um aborto ou Mariana perdeu a regra)
Após sair da delegacia Mariana fez os cálculos, não conseguia pensar nos excedentes, pelo tempo da relação o prejuízo fora em torno de R$ 30.000,00, no mínimo, e não durou tanto assim. Parte do rosto ainda estava deformada, só ela conseguia ver sua transformação e sentia vergonha de si mesma, entregou a chave do carro a um estranho que o avaliou por um preço baixo, não pagaria o investimento que fizera por amor, nem a dívida que foi gerada para a família, resolveu apenas a parte que tirava o sono de todos. Sentia a lente dos fotógrafos e as evitava, talvez por medo do monstro que via em si mesma, ainda que ela tivesse sofrido o exame de corpo delito.
Ser tocada daquele jeito não a tornava vítima, o mundo a escolhera ré primária, afinal, a neutralidade não existe, é per capita. Mariana era mão aberta, tendia a ajudar as pessoas, uma maldição que carregara na vida adulta, visto que, é uma fase em que o efeito pode ser reverso. - Quanta ingenuidade para uma criatura bastante crescida! – Na verdade, ela se faz de boba! A vida prega peças e Mariana aprendeu que não dava mais para brincar de par-lendas, Dedo Mindinho/Seu vizinho/Maior de todos/Fura-bolos/Cata-piolhos, a sua existência era um fracasso público, uma desonra na vida privada. Não assumisse tanta culpa e a deixariam em paz, a culpa é o martírio dos homens, o açoite dos que se prendem a ela e libertam forasteiros, por isso Mariana era como uma Geni.
Esposa fiel e dedicada, mulher independente e reservada. Jony, seu esposo, nome de registro, não era muito atencioso, homem de poucas palavras, tinha paixão por jogos, viciou-se no jogo do bicho, não houve saída, quem ama demais sofre as consequências, ser íntimo é partilhar de todos os momentos, até os mais inesperados. Mariana silenciou e o ajudou, mas a dívida crescia e Jony tinha até turma, apostavam entre si e em conjunto também. Faltava dinheiro e Mariana trabalhava cada vez mais, contava um, dois, três mil reais e o jogo continuava. Era uma mulher da ciência, não apelava para o divino, não acreditava em divindade alguma, e creditava sua união na cegueira da paixão, era quase obsessão. Até que não veio mais a regra. Optou por cuidar de si mesma, de sua cria e da vida. Ao se tratar de escolha, é como vida, cada um cuida da sua. Esperou mais um tempo: seu erro.
Completaram-se quatro meses sem que Jony percebesse – só tinha olhos para o bicho – Mariana suportou todas as humilhações e gritos, mas não abriu mão de suas economias, calculou o tempo pela matemática e valor das coisas necessárias para ir embora, falhou no cálculo da vida. Mulher forte, decidida, fez as malas enquanto era espancada, sua bondade não permitiria que desse queixa dele, ela também guardava um segredo no ventre – assim se sentia. Abrira a porta, desceu três degraus até chegar à calçada, não resistiu, acordou no hospital, sem filho, sem dinheiro, interrogada por policiais. Não conseguia articular bem as palavras, disse: - Tenho que enterrar minha criança, com muita dificuldade. Ela o fez.
Após sair da delegacia Mariana fez os cálculos, não conseguia pensar nos excedentes, pelo tempo da relação o prejuízo fora em torno de R$ 30.000,00, no mínimo, e não durou tanto assim. Parte do rosto ainda estava deformada, só ela conseguia ver sua transformação e sentia vergonha de si mesma, entregou a chave do carro a um estranho que o avaliou por um preço baixo, não pagaria o investimento que fizera por amor, nem a dívida que foi gerada para a família, resolveu apenas a parte que tirava o sono de todos. Sentia a lente dos fotógrafos e as evitava, talvez por medo do monstro que via em si mesma, ainda que ela tivesse sofrido o exame de corpo delito.
Ser tocada daquele jeito não a tornava vítima, o mundo a escolhera ré primária, afinal, a neutralidade não existe, é per capita. Mariana era mão aberta, tendia a ajudar as pessoas, uma maldição que carregara na vida adulta, visto que, é uma fase em que o efeito pode ser reverso. - Quanta ingenuidade para uma criatura bastante crescida! – Na verdade, ela se faz de boba! A vida prega peças e Mariana aprendeu que não dava mais para brincar de par-lendas, Dedo Mindinho/Seu vizinho/Maior de todos/Fura-bolos/Cata-piolhos, a sua existência era um fracasso público, uma desonra na vida privada. Não assumisse tanta culpa e a deixariam em paz, a culpa é o martírio dos homens, o açoite dos que se prendem a ela e libertam forasteiros, por isso Mariana era como uma Geni.
Esposa fiel e dedicada, mulher independente e reservada. Jony, seu esposo, nome de registro, não era muito atencioso, homem de poucas palavras, tinha paixão por jogos, viciou-se no jogo do bicho, não houve saída, quem ama demais sofre as consequências, ser íntimo é partilhar de todos os momentos, até os mais inesperados. Mariana silenciou e o ajudou, mas a dívida crescia e Jony tinha até turma, apostavam entre si e em conjunto também. Faltava dinheiro e Mariana trabalhava cada vez mais, contava um, dois, três mil reais e o jogo continuava. Era uma mulher da ciência, não apelava para o divino, não acreditava em divindade alguma, e creditava sua união na cegueira da paixão, era quase obsessão. Até que não veio mais a regra. Optou por cuidar de si mesma, de sua cria e da vida. Ao se tratar de escolha, é como vida, cada um cuida da sua. Esperou mais um tempo: seu erro.
Completaram-se quatro meses sem que Jony percebesse – só tinha olhos para o bicho – Mariana suportou todas as humilhações e gritos, mas não abriu mão de suas economias, calculou o tempo pela matemática e valor das coisas necessárias para ir embora, falhou no cálculo da vida. Mulher forte, decidida, fez as malas enquanto era espancada, sua bondade não permitiria que desse queixa dele, ela também guardava um segredo no ventre – assim se sentia. Abrira a porta, desceu três degraus até chegar à calçada, não resistiu, acordou no hospital, sem filho, sem dinheiro, interrogada por policiais. Não conseguia articular bem as palavras, disse: - Tenho que enterrar minha criança, com muita dificuldade. Ela o fez.
Manuela Barreto (Brasil)
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