A banda sonora do amor
Na década de 90 não havia vídeo de casamento digno desse nome
que não incluísse na sua banda sonora uma música do Kenny G.
Nunca cheguei a perceber se era sempre a mesma musiquinha ou se eram
várias, padecendo os meus ouvidos de alguma espécie de inaptidão
crónica para as distinguir. Os meus ouvidos até nem são snobs
ou ecléticos. São uns ouvidos que se conformam em ouvir rock,
salsa e kuduro só porque sabem que o corpito gosta e reage
logo. Fossem eles ditadores e só escolheriam jazz, música
clássica, violino. Não são. Vivemos numa alegre democracia.
Voltando ao Kenny G., que me parece estar para a música
como o Nicholas Sparks está para a literatura, não sei se
ainda é rei e senhor dos agora DVD de bodas. Nesta fase, não só já
não assisto a casamentos a toda a hora, como também já aprendi a
arte de escapar airosamente ao visionamento dos respectivos vídeos.
Tenho assistido a divórcios. A sua banda sonora é, contudo, muito
diferente. Ainda assim, e passados largos anos, sempre que o meu
aparelho auditivo capta as notas da dita música – ou músicas
(esta dúvida ficará comigo para sempre), sou imediatamente remetida
para imagens de noivos e noivas sem rosto, muito fofinhos e prestes a
embarcar no primeiro avião com destino à República Dominicana.
Grande cabra, dirá o leitor que teve o Kenny G. como
banda sonora ou aquele que foi de lua-de-mel para o referido destino.
Muito pior dirá aquele que fez o pleno.
Sem comentários:
Enviar um comentário