quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Na paz dos anjos

E dito isto o anjo desce à Terra e pergunta-me porque o chamei.
 - Quero ser feliz. Quero ter paz.
Equilibrando-se a custo no peitoril da varanda, o anjo estende-me uma asa.
 - Para onde me levas? – Pergunto.
 - Para onde serás feliz.
 - Mas eu quero ser feliz aqui.
Abanado pela resposta, o anjo recua a asa para se reequilibrar ou então para reconsiderar o convite.
 - Como queres ser feliz neste mundo, quando foi este mundo que te trouxe a infelicidade e te fez chamar por mim?
 - Não sei, diz-me tu. Os génios da lâmpada, ao menos, não fazem perguntas. Concedem desejos.
 - Pois não fazem. Mas no último desejo voltam a tirar tudo e é apenas isso que acontece no teu mundo. Vives e morres para poder de novo tentar, perpetuando o ciclo da impossibilidade. O teu génio vende ilusões; ilusões que não resistem ao tempo; outra ilusão. Pedes o impossível e ele oferece-te o que não existe. Faz-te correr de slogan em slogan até ao dia em que descobres o engano. O que ele te oferece são fumos coloridos que só servem para esconder a verdade, essa sim, a tua realidade. É isso que queres? Continuar a tentar?
 - Eu só quero ser feliz.
Este corpo de luz e asas brilhantes a esconderem o Sol por trás, salta da varanda para o chão da sala para me abraçar.
 - E os outros? Os outros tal como tu, nunca estiveram aqui. Esperam que despertes, para também eles poderem despertar.
 - Tens a certeza?
 - Para ter a certeza, era preciso que antes existissem dúvidas.
Muito fixe esta resposta. Tão fixe que me deixei ir. 


DuArte

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