Esquadros de por-do-sol
Quando me disse a novidade fomos juntos
provar o sorvete, pedi uma bola de brownie, você quis a de frutas
vermelhas. Sentamos no banco e vimos o nascer do sol, após longo
tempo conversando sobre sorvetes, bolos, chicletes e sonoridades. O
dia começou calmo, as folhas inertes e a brisa ecoando o infinito.
Você perguntou:
-
Não acha que a cidade está silenciosa?
-
Sim, uma sensação de calma.
-
Não seria de paz?
-
Não, de calma!
-
Calma não é um estado?
-
Só estou sentindo, não sei.
-
O sorvete estava gostoso, e agora, essa brisa morna.
-
Sim.
-
Você disse que não gostava de doce.
-
Às vezes tenho desejos, de alguns, são poucos, os menos açucarados.
-
Escutou a música daquele carro com o som alto?
-
Péssima.
-
Ele diminuiu a velocidade quando passou por você.
-
Deixa p'ra lá!
-
Sabe, cidade ocupa anseios, são todas iguais por dentro.
-
Por dentro?!
-
Quero dizer que, por mais organizada que sejam, são cidades sempre
em desenvolvimento, assim o querem, todas elas.
-
Você se expressa de uma maneira que não entendo.
-
Como?
-
Não entendo algumas coisas que você fala!
-
Deixa p'ra lá então!
-
Mas eu quero entender.
-
Deixa.
-
Deixa o quê?
-
Esquece.
-
Como?
-
Olhe bem, está vendo aquele quadro?
-
Qual?
-
À sua frente, defronte, em frente, ao longe.
...
-
É o infinito!
Manuela Barreto (Brasil)
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