quarta-feira, 24 de outubro de 2012

  
Esquadros de por-do-sol

Quando me disse a novidade fomos juntos provar o sorvete, pedi uma bola de brownie, você quis a de frutas vermelhas. Sentamos no banco e vimos o nascer do sol, após longo tempo conversando sobre sorvetes, bolos, chicletes e sonoridades. O dia começou calmo, as folhas inertes e a brisa ecoando o infinito. Você perguntou:
- Não acha que a cidade está silenciosa?
- Sim, uma sensação de calma.
- Não seria de paz?
- Não, de calma!
- Calma não é um estado?
- Só estou sentindo, não sei.
- O sorvete estava gostoso, e agora, essa brisa morna.
- Sim.
- Você disse que não gostava de doce.
- Às vezes tenho desejos, de alguns, são poucos, os menos açucarados.
- Escutou a música daquele carro com o som alto?
- Péssima.
- Ele diminuiu a velocidade quando passou por você.
- Deixa p'ra lá!
- Sabe, cidade ocupa anseios, são todas iguais por dentro.
- Por dentro?!
- Quero dizer que, por mais organizada que sejam, são cidades sempre em desenvolvimento, assim o querem, todas elas.
- Você se expressa de uma maneira que não entendo.
- Como?
- Não entendo algumas coisas que você fala!
- Deixa p'ra lá então!
- Mas eu quero entender.
- Deixa.
- Deixa o quê?
- Esquece.
- Como?
- Olhe bem, está vendo aquele quadro?
- Qual?
- À sua frente, defronte, em frente, ao longe.
...
- É o infinito!


Manuela Barreto (Brasil)

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