Por um morfema feliz
As palavras falam sobre todos os
assuntos, estão por todo o lado onde haja tema de conversa, onde
haja algo a dizer. As palavras são gregárias, vivem em cidades
textuais, em vilas e aldeias, em comunidades de povos de letras
sociais. E, mesmo quando solitárias, podem ser multiplicadas,
traduzidas por outras palavras. Até trocadas por outras da mesma
família ou significado. As palavras são transversalmente habitadas
por “morfemas lexicais ou gramaticais” e podem ser
lugares-comuns.
Há um "morfema" por dentro das
palavras, de cada palavra. Há um “morfema” que vive só e feliz;
e há outro que vive o discurso acompanhado pelo prefixo de negação
e acaba sempre infeliz. A minha felicidade parte do “morfema”
feliz, corre em fuga do prefixo que a tenta negar e ao chegar à
meta cola-se ao cru sufixo da idade. A minha felicidade plena será
conseguir atingir feliz a maior idade que conseguir. E se o estado do
meu morfema se mantiver adjectivante, terei felizmente aquilo que a
minha adverbial mente pede.
Quando o feliz surge solitário, não
passa de um “morfema livre”, um "morfema" que se pode vir a unir
com um “lexema” em qualquer ocasião, mas que tão só vale por
si. Para ele, ser livre, significa usar a liberdade de se exprimir
adjectiva ou substantivamente. O “morfema livre” explora o
“morfema preso”: vive nele em razão da idade, acrescenta-lhe
mente, ou redu-lo a negações adjectivas ou adverbiais. O “morfema
livre” coabita consigo próprio, mas com a idade torna-se um
“morfema preso”.
Quando o “morfema” saúde, sofre de
algumas “alomorfias”, pode não ser nada de grave, contanto que
faça uma vida salutar e não frequente locais insalubres, não será
o convívio do morfema com algumas variantes alomorfes que vai
desmerecer a sua origem. Mas, nunca por nunca, devemos cair na
ausência de morfema apenas para cobrir a função semântica, porque
quando ele se ausenta caímos no “morfema zero”.
Joshua Magellan