finalmente os olhos começam a pesar. horas contorcendo os lençóis amarrotados, olhando o branco cálido de um espaço sufocante, fitando o nada dos carneiros saltitantes que se contam. horas tentando encontrar uma porta para o outro lado da consciência. peguei num livro. há tanto tempo não lia... foi beckett. foi teatro. foi sentir-me de novo num palco. alegria. parece que mesmo quando escrevo somente corro ficando parada. parece que estando parada estou sempre ainda assim correndo...tal como tu me dizias.
gostava de colar post-it's na parede com tudo o que me lembras...só palavras que te definam, gritem ou sussurrem o que em mim significas. gostava, mas é tão cedo...e gosto de saber que não há pressa. e gosto de saber que ainda dormes ao meu lado amanhã.
chove lá fora. dizem que é a aproximação de um ciclone qualquer. não sei bem porquê, a palavra ciclone sempre me lembrou a palavra centauro; e centauro é em mim a representação de tudo o que é másculo, de todas essas lendas mais ou menos místicas de destemidos heróis e minotauros, de lutas infindavelmente espartanas, de testosterona que sobressai em farta barba. não sei porquê, pensar centauro traz-me à mente a tua imagem. e, sabendo já porquê, sorrio. sorrio enquanto os olhos se contorcem devagar, enquanto os músculos se tornam dormentes, enquanto o livro cai por entre os lençóis vincados de tanto os apertar para lhes espremer o perfume teu que ali ficou. e hoje não tenho medo. sei que ficas em cada raio de luz de cada novo amanhã.
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