sexta-feira, 2 de abril de 2010


Por Nada...

Ali estava eu, sentado no café, sem saber o que fazer, não esperava nem contava com nada, mas também não me dispunha a sair de onde estava, tal era o peso de estar só por estar, sem ser por nada.
E de resto, o que se pode fazer quando se espera não se sabe bem por quê, senão esperar… observar o mundo e ser observado pelos que nele se entretêm a observar. Assim foi, eu acabei por me fixar no passo apressado dos transeuntes, por lhes tentar adivinhar destinos, por lhes traçar um perfil de vida apreendido pelo passo ou pela marca dos sapatos.
E ficar apenas a pensar: que os homens andam sempre apressados e correm, porque têm sempre qualquer coisa a fazer; e que, quando não têm que fazer, inventam lugares onde ir e sonham coisas para fazer, só para se sentirem vivos. Então porque razão me deixo eu ficar por aqui, no café, só por ficar, sem um objectivo definido, que me traga essa vida apressada que tão interessante parece ser para quem a vive.
Contudo limito-me a ocupar o meu posto de observação, a minha cadeira de abas, lugar comum no meu desabado lugar no mundo, e consolo-me a mim próprio pensando – que todos temos a nossa cadeira de abas, num café qualquer, numa rua assinalada por gente anónima e apressada.
De repente o empregado do café, desperta-me com o cheiro da cafeína, próximo, e serve-me o copo de água que não havia pedido:
" - Muito obrigado", digo distraído e certo. Mas, ele não se fica e contesta-me:
" - De nada, de nada…"
Assim nos sentimos ambos humanos, criaturas reais, a fazer, a dizer… nada!


Joshua M.

1 comentário:

Duarte disse...

Acabo de me cruzar com uma jovem de pele clara, a pensar se seria capaz de recomeçar tudo de novo, a começar pelo primeiro olhar. Lembro-me da frase que marcou o meu dia de ontem enquanto passeio os olhos até uma outra menina sentada na esplanada. Ao seu lado, de guarda, está deitado um cão a arfar.
Está um lindo final de tarde na baixa Portuense. O lusco-fusco que enfraquece os dragões, que convida à meditação, também denuncia as mulheres que de repente se vêem perdidas entre a luz e a escuridão.
Olho em volta para o casario antigo que parece ganhar vida, sobrepondo-se em nuances mágicas de sombra. Será isto o presente? Será isto o amor? Enterneço com o pensamento e decido sentar-me um pouco, enquanto espero a hora de ir ter com a Xana ao hospital. No andar de cima do café Progresso, uma menina de cabelo curto com repas apanhadas por um pequeno travessão, lê banda desenhada com o rosto apoiado na mão. Dois gays, muito juntos, debatem as notícias enquanto desfolham um jornal.
Longe, aparentemente indiferente, um homem de copo na mão, sentado numa cadeira abas, observa a paisagem humana.
Procuro nos bolsos as moedas que ditarão o meu desejo. Dois euros, nada mau. Peço um café de saco e um queque de maçã. Tiro o portátil da pasta, escolho uma música no Itunes, meto os phones nos ouvidos, ligo a máquina de escrever e deixo-me guiar..

Adorei..