sexta-feira, 4 de maio de 2012

SEMANA DA LUSOFONIA - Palavras Versadas (IV)


Eu fico em qualquer sítio

onde quer que vá

penduram-se sempre em cabides baixos
as chagas que vestimos hoje

dentro das escadas das gavetas das almas
pediram as lágrimas que as usássemos,
como óleos de sismos nas plateias da desfolhada

dentro de mim a lenta velocidade da luz
agrafa-me o cheiro das mães impuras
como muletas ubíquas
sombras de garras do passado
pântanos de esquecimento da respiração
rios de lembrança do anti-nós

quando se encaracolam os seios da lareira
amasso-me de esquinas que esculpo de ti
em desculpas salgadas nas longas avenidas

dispo-me do pão negro que perdoei hoje
e o sol fresco dos cabides onde te sigo cai em pó nas virilhas das ruas
para que nasçamos reinventivos no útero absoluto das galáxias.

abortei-me da tua esbelta lembrança errática,
prefiro sorver elástico o teu soro amigo
a rodopiar no entretanto das expectativas,
enquanto bodes facilitavam os ossos entre margens.

plantei-me do estertor dos teus erros regurgitados
das lentas lágrimas que se espraiavam,
da espiral medula que pandoraste.

Está um cabide na nossa nuvem.
pendura as tuas lutas
que eu canto nu entre os ouvidos dos joelhos da cidade
que eu canto nu a quem respira o perder
na solidão imensa do ser igual.


Miguel Barroso (Portugal)

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