terça-feira, 3 de agosto de 2010
Palavras Versadas
EQUÍVOCO
Andei enganado
enganado nesta vida
sem saber que o mármore é mármore
e o fogo é fogo
e que o vinho é vinho
e o nada é nada
andei enganado
ignorando que os capacetes dos polícias
são caveiras de candelabro
e que é no rosto do povo
que se refugia a alma dos mundos
Anónimos são os loucos
que se escondem no desejo
desconhecendo que na cidade
as ervas crescem por dentro do asfalto
Tristes são os raros
que semeiam riso na bengala do absinto
enquanto a solidão
com olhos de negras cruzes e garrafas de esperma
memoriza os anos vindouros
em esferas de pó de talco
Magnânimas são as mulheres
desinteressadas à filosofia do cristal
sem se importar com a idade do dono
que é realejo na rua
torre oculta de marfim e fera amestrada
Iludidos são os poetas
que trazem lareiras nas veias
ignorando que o que dói na carne
é o frio do quotidiano
um frio de agulhas geladas
e acácias de aparência
A cerveja é servida quente
e o inverno com os seus frigoríficos
está de serviço
na distribuição obsessiva das carícias
e do café
As palavras há sempre quem as ignore
e a música é o corredor já conhecido
que no escuro labirinto
se sabe não ir dar à superfície
Passa por mim fugazmente
uma esperança de braços cruzados
de que se acenda uma luz qualquer de veludo
em que tilintem metais de vidro
e os ventos devolvam o mar
A morte está escrita nas paredes das universidades
e os meninos de doze anos
com laçarotes de fumo
jogam às cartas no parque de estacionamento proíbido
para que quando os relógios emocionados
derem as quatro da manhã
escorregarem pela retrete
João Belo
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