quarta-feira, 18 de agosto de 2010


a vez

aquela vez em que voltaste cabelos soltos pele mais clara para ficar a observar o rio que não sabias que existia o dia 19 sempre 19 e chovia aquela vez em que ficaste e porquê eu não sabia e acho que hoje ainda não sei que naquela vez que só sorriste te cabe no peito o frio lá fora que entra dentro e fica a observar o rio a que voltaste por não saber que existia aquela vez em que voltaste cabelos soltos pele mais clara só mesmo para observar o rio e nele encontraste cabelos que crescem com a luz do dia naquela vez em que ficaste suando frio o amor de dentro aquela vez como qualquer outra aquela vez em que voltaste e ainda hoje não sei porquê aquela vez em que ficaste e de novo brotou de mim cabelo em cada poro aquela vez e ainda crianças brincando lá fora apesar da chuva e a tua mãe ai cala-te aquela vez em que voltaste para me ver ficar e te encontraste mais claro cabelos soltos olhos escuros aquela vez em que o sol é negro o dia é negro e ser negro faz-me feliz aquela vez em que a tua mãe ai cala-te porque gritaste outra vez naquela vez em que voltaste e havia trovoada lá fora e as crianças ainda assim brincavam como se nada fosse aquela vez a tua mãe ai cala-te e tu à janela a ver as crianças lá fora aquela vez dia 19 tudo tão negro crianças lá fora a tua mãe e tu mais claro aquela vez em que feliz voltaste e ficaste para sempre. aquela vez em que o cabelo do dia te tornou noite e assim junto a mim ficaste. aquela vez, quando morremos.


Virginia Machado

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