LEITURA EXPLÍCITA
{talvez um dia regresse à voz do leitor.}
o leitor morre mais depressa que o poeta.
quero os meus poemas a morrerem
daqui a cem anos
no último fio de voz do primeiro leitor imediato
e numa altura em que todos os livros
subirão aos céus.
não quero o prazer de haver sido distante
num tempo distante. quero o prazer
de ser imediata e soberba
num tempo imediato e arrogante.
quero manufacturar tudo o quanto de pescoço há
na representação.
porque o tempo futuro é um encolher de ombros,
e nos meus poemas as razões se limitam
a retirar razões a outras razões.
Sylvia Beirute
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