quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Reminiscências de um sonho
" – Não haverá maneira de sairmos daqui? Para um lugar diferente? Para algo que não seja vaguear pelo mundo como uma alma penada? Se calhar alguns mortos vão para outro lugar...!?"
" – Ouvi dizer..." – Começou uma falecida na voz baixa dos segredos. "...que alguns se vão daqui."
" – Como?" – Perguntei imediatamente, animada pela perspectiva.
" – Não sei!" – disse ela encolhendo os ombros. " – Dizem que há outros lugares para se estar morto. Não sei se melhores, se piores. Nem sei bem se é verdade. Ouvi rumores..."
" – Então nós passamos a vida inteira a fugir da morte, a adiar o nosso encontro com ela e depois de mortos ficamos perante a perspectiva, ou a certeza, de não morrermos mais e de passarmos toda a eternidade a vaguear, sem sequer esperança de morrer porque já morremos?" Perguntei, mais para mim própria do que para ela. " – Eu pensava que a morte ainda estava tão longe de mim. Eu ainda achava que era uma coisa que só acontecia aos outros, aos velhos ou aos incautos. Eu ainda me achava imortal. Isto só pode ser um pesadelo, um sonho ridículo do qual espero acordar rapidamente. Uma pessoa devia saber quando morreu, quero dizer, alguém deve informá-la. Mesmo que se vá para o inferno tem de haver alguma coisa, sei lá, uma placa a dizer “Wellcome come to hell” ou algo parecido, em inglês, claro, como nos filmes. Assim não tem sentido."
" – E porque deveria ter?"
" – Porque quando estamos vivos, fazemos planos, temos sonhos, temos esperança e, sobretudo, sabemos que um dia a morte virá ao nosso encontro. Pensei que quando morresse ficaria absolutamente morta, de corpo e alma, morta para todo o sempre. Assim teria sentido…"
Missanga
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