Viajante Urbano
Era um garoto à procura de um
santuário para guardar seus segredos mais íntimos. Observaram-no de
longe, muito longe, e havia tanta dor, tantos desejos recônditos.
Ele os pôs em prática. Triste sina, um viajante solitário a andar
em círculos, sempre ao redor de si mesmo. Ah os segredos, quando
habitam o ego não há mais volta, sobrevivem de sopro! Não me
disse nada, cabia ler cada ato e pedir ao meu amigo para escrever
essa tese da vida alheia. Um bar seria o lugar ideal para
encontrá-lo, sua loucura era acreditar ser um vampiro juvenil,
encontrar pessoas perdidas, carentes, frágeis, ressentidas, todos
ansiosos por afetos num mundo em que o próprio teatro é o dos
vampiros. Bebidas e conta paga. O que importa se somos escravos do
sistema, escolhemos onde queremos atuar. Na vida mundana a liberdade
é grande, o preço justo. É difícil ser você mesmo, um dia você
acorda e pensa sobre o que fez no ano passado, a resposta nunca é
encontrada, entretanto, os atos solidificam-se. Aquele garoto não
aprendeu nada, queria viver como o nobre numa terra de plebeus.
Pergunte ao meu amigo de que maneira o fazia, apenas testemunhei. O
mínimo que posso entender é que “não se pode servir a dois
senhores”, e explico: não é possível ser você mesmo e ser
outro, a ciência de manipular destinos não ensina a curar dores.
Vide verso.
Quando não se entende a matemática
dos erros, os ensaios ficam fragmentados, fui coroinha e sei rezar o
terço, nenhuma doutrina me enobrece, religião não envaidece, nunca
fui alcoólatra, o alcoolato fez-me saber a medida da alcoolometria.
Vício é vício, não tem prescrição. Meu amigo relatou tudo:
- Aceita uma bebida?
- Sim, por favor.
Um olhar astuto dirigia-se ao rapaz atencioso e gentil, um cavalheiro à moda antiga. Sabia que alguma coisa estava acontecendo entre eles, chegada e partida era a vida daquele mancebo.
Um olhar astuto dirigia-se ao rapaz atencioso e gentil, um cavalheiro à moda antiga. Sabia que alguma coisa estava acontecendo entre eles, chegada e partida era a vida daquele mancebo.
- Vou preparar um especial para o
senhor.
- Está bem, confiarei em seu talento.
Ao se tratar de confiança, leia-se
“confio em mim”. Era essa a primeira lição inesperada entre
ambos. A bebida estava saborosa, outras pedidas foram fervorosas, a
clientela crescente, propaganda de boca em boca é a alma do negócio.
Contratado:
- Sou o dono desse recinto, sinto muito
em lhe informar que apreciei suas bebidas, também sou um degustador
nato, nenhum encontro é casual, não é mesmo?
- Não entendi, senhor.
- Entendeu sim, garoto, vamos para as
próximas etapas, do começo não se sabe o fim dos sujeitos,
sabem-se passantes.
Manuela Barreto (Brasil)
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