Por falar em amor
Então é isso. A vida como teria de
ser, atravessada por um redemoinho de sensações. Palavras que
adquirem vida própria e nenhum espaço para autodefesa. Rimasse o
existir com sonetos de amor e os ruídos, as vozes, os discursos
indiretos livres seriam mais condescendentes. O mundo livre de
perversões, dicionários ausentes de termos precisamente
dispensáveis: malícia, maldade, vingança, traição, manipulação,
demagogia, guerra, injustiça, et cetera. Em outra perspectiva, não
haveria pontos de vista, nem verdade absoluta, mas a pureza dos
discursos, o sentimento universal seria responsável por conduzir
percepções, a tênue fronteira entre o dizer e o fazer estaria
protegida por soldados da paz e da ordem cósmica. E então é isso,
a vida como alguém disse que seria. Outro alguém a dizer como ela é
para um desconhecido. O fictício é banal para realidades
inventadas. O silêncio grita esperança, o corpo mimetiza, tão
longe e tão perto de todos, em algum lugar desse universo, há um
texto que implora perdão.
Manuela Barreto (Brasil)
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