No comboio da vida
Gosto muito de comboios. Adormecer
embalado pelo bater das rodas nas uniões mal acabadas. Dar por mim
uma ou duas estações mais à frente, parado na plataforma a olhar
para trás.
É engraçado, quando penso em comboios, a ideia que
me preenche o imaginário não é de linhas paralelas, sempre
paralelas, mas linhas que se cruzam nos emaranhados das estações.
Talvez porque a vida se faça assim, tão aparentemente linear, eu
goste tanto destas linhas, porque se podem desviar. Como uma
alavanca, um botão, um clique de rato, podem decidir o futuro dos
passageiros, desviados para um túnel escuro, ou então, porque a
sorte nem sempre é madrasta, para uma paisagem ribeirinha, cavada em
socalcos, repleta de luz.
DuArte
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