Da Kontra-kultura
Sensação estranha esta, de entrar num ano novo desta forma involuntária: amarrada a cordas de fantasia e docemente chicoteada por mão firme – sinto a dor que não sinto, logo sinto desejo. Não queria, mas também ninguém me perguntou quais os meus desejos. É a ditadura do tempo e do modo. Detesto todas as formas de ditadura, até a da maioria. Mas não consigo deixar de me vergar (até ao prazer final) perante as ditaduras que imponho a mim própria, sou escrava dos meus mais intímos desígnios.
Sinto-me assim, a pairar neste suposto novo tempo, sem vontade de me animar com esta pseudo-novidade que dá pelo nome de PRAZER INVERTIDO, FILIA, DEPRAVAÇÃO, ou lá o que seja.
Se calhar o problema mesmo é ser segunda-feira. Outra nova semana sem lhe sentir o gosto de não sentir, sentindo apenas a falta. E passamos a vida nisto! A contabilizar tudo: quanto tempo perdido, dinheiro ganho, amigos fiéis, sucessos, insucessos, gostos, desgostos, dores e risos. Quantos mais? Nunca se está simplesmente a viver, a sentir o que se deve sentir quando se deve sentir, está-se sim a coleccionar vida, como se coleccionam cromos. Aparentemente este fenómeno do prazer deve estar relacionado como alguma estrutura organizativa cerebral do género humano. Seremos para sempre assim? Como será o próximo ano novo?Lucinda Gray / Joshua M. - Adaptação de uma qualquer realidade virtual
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