quarta-feira, 18 de maio de 2011


Foi colhida, a Rosemary

Rosemary foi colhida por um comboio de passageiros que já tinha perdido a hora quando se cruzaram na passagem de nível de Bela Mandil. 

"Uma mulher colhida, faltava pouco para as cinco" - disseram nos jornais. Alguém disse. Há sempre pessoas com coisas para dizer.
Ainda espreitei da terceira carruagem mas não consegui ver nada disso. Só um mar de malvas e azedas, poucas figueiras e uma brisa quase vento. Um dia alegre, digam o que disseram.

Com as suas vozes normais, as pessoas cá fora afirmavam que Rosemary fora "colhida, sem oferecer resistência". Ofereceu o crânio, o ventre, as coxas, o coração e as costelas...  ofereceu-se à fúria da composição.
Não lhe ofereceu resistência.
Isso, não.

(soube, depois, que não foi re-colhida na totalidade. estava o esqueleto demasiado disperso, a oferecer resistência)


Iolanda Bárria

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