quarta-feira, 11 de maio de 2011


A Verdade será sempre...

Abriram-se-me os olhos eram cinco da manhã. Não foi um despertar igual aos outros. Foi como se tivesse acordado de um longo sono, sem sono nenhum. Não me virei, como sempre faço, abraçando-me ao corpo mais próximo, entrelaçando as pernas nas pernas que dançam até o sol nascer. Abri os olhos de vez!
"Que se passa? Que barulho é este?"
Olhei para a escuridão do quarto, à procura de um vulto, de um respirar. Na rua, um galo cantava os bons dias; o ruído era da minha gata a convulsar. Levantei-me. A minha testa... Acendi a luz das escadas para não acordar os meus filhos. A gata estava no chão do hall, meio encolhida, a olhar para as duas pequenas bolas de pêlo que vomitara. Acendi a luz da casa de banho e peguei num pedaço de papel para limpar aquilo. A testa continuava a latejar. Lavei a cara e olhei-me no espelho. Como se olham os actores nos filmes, apoiado no lavatório, a escorrer água.
Já não sou eu. Já não sou o homem que era. Esta testa já não é minha.
A imagem no espelho não é nítida. O mundo começou a perder aderência. O mundo, hoje, é outro.
Voltei para o quarto, para me sentar na beira da cama, virado para a janela, para meditar um pouco. Fechei os olhos e deixei-me ir.
As frases começaram a chegar: eles são como tu, no seu sonho, também são como tu. O que pensas, eles pensam; e o que sentes, eles sentem – porque, fora do sonho de cada um, sois o mesmo. O mesmo que eu. Cuidam que nada de falso possa existir no seu coração. Basta que não o sintas no teu coração.
A meditação não foi grande coisa. Não era para ser. Deitei-me, a olhar para o tecto do quarto, tão desperto, até adormecer de novo.
Hoje de manhã, quando abri o livro, ele estava diferente. No topo da página, bem ao centro, encontrei esta frase:

"A luz veio...

O mundo, hoje, é outro;
O livro é outro;
O mundo sou eu."


DuArte

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