quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Ontem morri 

Ontem morri, soçobrado ao castigo de ofensas que me atingiram como gumes. Ontem ofendi: empunhei facas contra facas. Ontem morri, sufocado por um nó na garganta ao ver a raiva virar-se contra mim. Hoje escrevo com a alma ferida de morte, atravessada por terríveis memórias que só o tempo deixará atenuar. Ontem morri, por te perder. Por deixar de te sentir na distância tanta que nos separa. Ontem morri, por não te poder ver, não poder falar ao teu silêncio. Porque ontem te perdi. Ontem morri, na parte de ti que em mim vivia, na parte que era eu também ao ser contigo. Na parte do todo que éramos e deixámos de ser. Ontem morri, por te saber lonjura, por te achar horizonte perdido sempre a distanciar-se. Porque o amor se acaba um dia, sem nos darmos conta do quanto acaba. Ontem morri, ao perceber que amava sem amar, que dava sem saber a quem dar, sem saber o que dar. Porque amava sem ser amado e não dava o que devia ter dado, o que era justo dar. Ontem morri, porque morreu em mim um afecto, porque a dor me matou à traição. Porque o mundo é cru e se alimenta de vida e da morte do coração. Ontem morri, porque se me calaram todos os futuros. Toda a esperança de um amor de mãos dadas com a paz. Ontem morri, porque não soube gostar de ti, porque nunca soubeste gostar de mim. Ontem morri. Sobrevivi. Hoje já não vivo aqui o que fui outrora tão perto de ti.


Joshua Magellan

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