sexta-feira, 12 de novembro de 2010


AA - Anonimar por aí

Não, nada a ver com o texto.

Dizem-me que os anónimos são todos desprezíveis, uma corja de canalhas e cobardes. Pois eu digo: não é verdade! Há uns e há os outros. De uns, felizmente percebo pouco ou nada, de forma que estou tentada a falar dos outros.

Por exemplo:

-os que gostam de não dizer coisa com coisa;
-os embaraçados;
-os inteligentes e sensíveis que, por pura amizade ou consideração, não querem criar problemas desnecessários, mas gostam de opinar;
-os que dão erros ortográficos;
-os que estão apaixonados pela pessoa errada, mas querem estar por perto;
-os que preenchem as caixas de comentários;
-os que vagueiam pela net e fazem companhia a tanta gente e aos próprios;

enfim… há tantas e nobres razões para se ser ‘Anónimo’.

Há que ter em conta que, na net, o ‘Anónimo’ conquistou uma certa espessura enquanto sujeito e isso retirou-o daquela dimensão meia vaga e gasosa em que se movia, fora dela. Antes, era mais ‘uma situação’
(por exemplo: um telefonema anónimo, uma queixa anónima, etc) e agora transformou-se num sujeito, a quem, inclusive, foi atribuída uma designação: “Anónimo”. E exibe-se orgulhosamente em quase todas as aplicações, com direitos idênticos aos da Isabel, do António, ou do Vítor Manuel. Online não há discriminações e isto - tendemos a esquecer -, é um bem inestimável. Se o sujeito Anónimo/a é respeitoso, bem humorado e não dá secas, como recusar uma boa conversa?
O problema disto é a velha estória do sistema que criou um monstro, que por sua vez tomou conta do sistema. Não há rosas sem espinhos, já se sabe. Torna-se tão fácil e apetecível escolher-se: ‘Anónimo’, que facilmente podemos cair em tentação, e voltar a cair, e voltar… Como sair disto? É que, inventarmo-nos pode ser muito viciante, mas descobrirmo-nos e deixarmo-nos ir, também.

Como abandonar este circo vicioso?

Talvez uma associação de apoio aos “Anónimos Anónimos”.
"Boa tarde, eu sou 'Anónimo' e ontem anonimei..."


Iolanda Bárria

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