quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Em qualquer errata divina
Sei, por deslize do meu destino que não soube guardar o segredo, que tenho o meu fim editado em qualquer errata divina. Prolongo os segundos em minutos sem os contar numa agonia quase irrespirável para compreender o desconcerto que a vida me traz, como se me visse numa linha de comboio a tender para o abismo. Corro por memórias há muito arrumadas em caixotes de cartão poeirentos, empilhados numa qualquer organização incógnita. Torno-me, sem dar por isso, guardiã dos meus actos passados na vã tentativa de encontrar justificações, teses e conclusões que apontem para o que sou hoje e para os meus dias premeditados sem sol nem estrelas. Entro em vácuo insonoro, sem fazer a mala nem obliterar o bilhete para a terra que grita surdamente de forma tão estranhamente audível.
Conheço quem tenha preferido arrancar o rosto para amputar emoções próprias e assassinar o fio ténue que une a terra a uma vida descabida e sem sabor. E assim tenha vivido numa recusa auto-consentida e descarada.
A Terra geme para além disto tudo, na infeliz habilidade de não ser suficientemente imperceptível para quem nela vive em inconsciência e negligência, feliz e sem compreender que a linha tornou-se recta e finita.
E o meu fim vai ser este, assinalado pelo grito feroz da Terra, implacável, sem perdoar actos passados mesmo que pelos deuses redimidos.
Berenice Greco
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