quinta-feira, 27 de maio de 2010


Cirurgia (ou outro sonho sem consequências)

Sei que andava pelas rua às compras com uma amiga, mas não sei quem era... a dada altura ela diz-me "estamos atrasadas, temos de ir para o hospital". E assim fomos. Na altura não sabia o que íamos lá fazer, mas estou habituada a esse ambiente e por isso não me preocupei muito quando nos mandaram entrar para uma sala branca, de mármore, gélido e asséptico.
No meio da confusão, enfermeiras, auxiliares e aparelho médicos, começaram a preparar-nos, às duas em simultâneo, para uma intervenção cirúrgica. É nessa altura que aparece a enfermeira R. e ordena: "as senhoras estão muito atrasadas, vá, vistam as batas, que a médica deve estar mesmo a chegar!". A médica chegou, gorda, de bata branca, olhar esbaforido e carcomido enquadrado por uns óculos de lentes grossas como fundos de garrafa. Parecia uma cientista louca, mas nós continuávamos impávidas e serenas. Estávamos sentadas lado a lado em duas cadeiras ergonómicas, que nos permitiam apoiar o peito inclinado à frente, quando a médica diz: “então vamos lá começar a nossa operação à coluna”. As cabeças inclinaram-se também para a frente e fixaram-se numa espécie de apoios específicos. Olhei mais uma vez para o chão de mármore branco enquanto a médica abria a minha bata nas costas e me afastava o cabelo da nuca, e explicava: “vou fazer duas pequenas incisões na testa, para depois descobrir a vossa cabeça até ao inicio da espinha”, e assim fez. Dois pequenos golpes nas fontes, depois desenrolou o escalpe até ao início dos ombros, tal como se separa papel autocolante da sua película protectora. Saiu tudo limpinho, sem sangue nem dor até que o escalpe ficou caído pelas costas a baixo.
Não me lembro como saímos hospital, mas sei que depois de sairmos de lá fomos viajar, as duas muito direitas para não estragar os pontos dos escalpes cosidos à cabeça. Fomos para uma estação de comboios infernal, cheia de gente, linhas entrelaçadas e sinalética difusa. Juntámo-nos finalmente ao resto do grupo que esperava por nós e entrámos na carruagem. A viagem começou por terrenos suburbanos em direcção ao sul e o sol começou a aparecer pelo meio das nuvens. À medida que a paisagem se tornava mais agradável, com vista para o mar e com sol forte a bater nas janelas da carruagem, comecei a sentir dores na coluna. “Vamos ter de parar”, disse, “não vou aguentar a viagem com estas dores”. “Está bem, amor” – respondeu-me alguém que estava ao meu lado – “vamos sair já na próxima paragem, a minha tia tem um apartamento aqui nesta praia do sul de Espanha”.
 
Ginger T.

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