quarta-feira, 12 de maio de 2010


Woman seated on a bench

Quando cheguei ao jardim ela já lá estava, como sempre, sentada no banco por baixo do acer, a olhar para mim. Não fui logo ter com ela. Passei a noite a ganhar coragem e não consegui. Tremeram-me as pernas. Eu sabia que era aquilo que queria, sabia que era inevitável fazê-lo naquele dia, mas, aquele olhar entregue, tão calmo, tão completamente despido, continuou a assustar-me. Segui em frente, como sempre fiz ao longo destes últimos dois meses e meio, até ao lago, até à esplanada, onde a podia ver de longe a olhar quem chegava, sem que ela me pudesse ver a mim. Bebi um chá de cidreira. Li mais um conto do livro que comprei para o disfarce. Fumei um cigarro e pensei: Porque não? Levantei-me. Dei os passos certos. Contados foram trinta e oito. Por volta do vigésimo quinto, já sabia a resposta. Ela percebeu. Não chegámos a abrir a boca, nem demos as mãos. Ficámos ali sentados, no banco por baixo do acer, a olhar para quem entrava e saía do jardim.
 
Duarte

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