terça-feira, 4 de maio de 2010

Palavras Versadas


cavalo-faísca

debrucei-me sobre as paredes invisíveis, provavelmente
quatro que irrequietas observam
o homem pousado

por cada deus com fome há sempre um filão de tristeza

de que matéria será feita, pensei, a eutanásia azul
que usam para encimar os muros
desta cidade malsã?
a minha própria voz cimentada até ao rachar
da cabeça
abriu-se em tons agudos como um tecto indomável
e na antecâmara melódica
obscura do desespero
cri ver à solta a clavícula despenteada de um gato doce
que afinal
se subtraíra à lista de extinções em que ninguém mais acredita
— pudera ser uma crina voadora ou qualquer
outro osso de vento

para mim a fé é sempre com dois cubos de açúcar, obrigado

é tudo mentira
disse-me a vizinha do cotovelo do lado
enquanto revolvia as pedras preciosas com o coração de pau

apaixonei-me novamente pela solidão

um fósforo antes alguém se atirara pela janela
e eu vi. cerrando o covil absurdamente longo
dos olhos
vi claramente
o meu espaço de arder


Bill enGates

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