sábado, 4 de setembro de 2010

Crónica Benzodiazepina




Desde muito cedo estar só foi um estado estruturante da minha existência. Foi só que me encantei por quase todas as cores, sabores e texturas que povoam os meus sonhos, as minhas conquistas, as minhas listas de afazeres e de metas. A solo construi um ideal de homem, de vida, de profissão, de lar. Sozinha desmontei todas as doutrinas que me impingiram. Sem dizer nada a ninguém inventei tanta coisa e tantas imagens no espelho que fiquei presa na minha rede de conexões internas, sem abertura a operadores externos, mesmo estando rodeada de gente a toda a hora. Sou tão eu cada vez mais que até me assusto. Perguntam-me se não tenho medo da solidão, de estar sozinha...? Mas haverá outra forma de estar? Não há nada pior que estar fora de mim. Acreditem. Quando estou na minha presença, têm-me mais do que nunca.


Ana Santiago

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