quarta-feira, 8 de setembro de 2010


Triângulo Escaleno

Cada momento entre Roberto e Francisca era um ciclone de emoções intensas perdidas num cruzamento de culpa e desejo. Eram ambos incapazes de resistir ao vendaval que os arrastava àquele motel de dois em dois meses. Sentiam um magnetismo, uma força de Coriolis a uni-los fatalmente na cama de todas as vezes, onde uma pujança temperada de sândalo deixava uma nuvem de voluptuosidade salpicada de suor e prazer. Amavam-se o mais carnalmente possível.

Maria chamou por Roberto do outro canto da sala para lhe apresentar a irmã. Quando aos olhos de Roberto se desenhara uma feição perfeita de mulher, ninguém naquela sala se apercebeu do que de facto se passara. Roberto sentiu-se uma ilha fustigada pelo mar irado, tal fora a violência do impacto e o âmago amordaçado, ao reconhecer naqueles traços a mulher com quem flirtava de dois em dois meses no “Motel Hiva-oa”. Deixou-se então, num coup de grâce, enlevar indolorosamente para um deserto de sentimentos confusos, opacos e com cheiro a sândalo.


Berenice Greco

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