sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Nós Por Desatar
Depois de termos tragado os dias amargos do passado, cruzámo-nos algures na vida – caminhos ínvios do destino – e remoçámos os sentidos. Hoje acordamos para o presente, com os olhos moídos, pensando ter vencido a vida, mas, no íntimo do nosso deserto íntimo, sentimo-nos derrotados e secos. Estamos maiores e vivemos pequenos, estamos pútridos de sentir e não sentimos, queremos amar com ânimo e apenas nos doem as penas do coração.
Quando nos encostámos ao sentir, os nossos corpos caídos em estado de letargia aguda, estremeceram ao despertar, ergueram-se tumultuosos e temíveis (qual mítico Adamastor) e mareámos por todos os prazeres assombrados por cabos tormentosos. Um dia sim, outro não, sempre talvez. Num dia vinho, amor e rosas; num outro, a ressaca, espinhos e ressentidas prosas. Dias de talvez-amar, dias de criar, dias de quase-dar, dias de Eros e Psiké mascarados, dias amargurados por uma felicidade impossivelmente nossa. Noites de velar por todos os sentidos.
Por vezes, as horas a dar o tempo de um dia passado, horas empatadas, horas e horas a adiar o futuro, sempre tão distante quanto o horizonte. E tu, minha triste companheira do caminho, a assobiares as horas perdidas da tua breve e tardia partida, deixando na memória apenas um adeus soprado por entre os gritos abafados, por entre a voz das nossas parcas e enormes diferenças.
Antagonizamos e morremos um pouco. Reconsideramos e renascemos, quando na manhã de um outro dia retorna a esperança do nosso tão recente encontro e de novo a doçura dos beijos perdidos e reencontrados, estamos sinceros e prementes. E penso: quem me dera poder protelar no tempo, este que é tão o nosso tempo, e revivê-lo até à eterna idade de me perder da razão. Mas, não posso ficar aqui ao pé de ti, não existimos nem existe em Nós. A minha vida é incessante e não posso ficar, sem ter a sensação de estar sempre a partir para onde nunca ficarei.
Quem me dera fugir contigo para nenhures e lá reencontrar-me comigo. Todavia, o único golpe de fuga que sinto é o da minha própria existência, que se escapa com o tempo para o lugar de onde fujo. Em ti, pressinto vagamente uma vida de outro viver e volta-me a vontade de consumir o resto de mim, o que já não tenho para dar: um minuto apenas, o que ainda não desperdicei, a teu lado…
E depois, lado-a-lado viveremos a sós, porque já não cremos, desatadamente - no prazer que temos para desatar - em Nós!
Joshua M.
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