quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BLOGONOVELA "O GUARDADOR DE VARAS" - Episódio II


O GUARDADOR DE VARAS(II)

O tempo, como sucede sempre que uma estória acontece, passou. Ali permanecia ele, portanto, sempre nas imediações do seu barraco no meio do monte, já lá iam alguns anitos. Era ele, Tó, que tratava dos porcos, pois outra coisa não fazia além disso. De sol a sol, óinc após óinc, dava-lhes de comer, de beber, limpava-lhes o focinho no fim das refeições, lavava-lhes os dentes, limava-lhes as unhas (manicure e pedicure), preparava-lhes banhos de lama, fazia-lhes limpezas à pele e escovava cada centímetro daqueles couros emporcalhados até se apresentarem luzidios e sem sujidade — o que comprovava com o teste do algodão.
Tratava os porcos melhor que a si próprio. Dedicava-se-lhes em absoluto. Falava com eles e, assim, acabou por emudecer progressivamente, subtraindo-se, gradualmente, a conversar com os aldeões; dava nome a cada um dos porcos mas esqueceu o próprio; passou a caminhar sobre os quatro membros e arrastava um outro; partilhava as rações e mamava nas tetas das porcas; chafurdava na lama e deixou de tomar banho; passava o tempo a discutir filosofia e a jogar à roleta russa com os suínos... uma verdadeira porcaria! Estava isolado do mundo humano, por isso elegera o seu próprio mundo, chiqueiro. Ou vice-versa.


Bill enGates

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