quinta-feira, 22 de julho de 2010


ACORDES... "acordai!"

A vida se altera. Movimento, som, arte, tudo em um só segundo. Uns dizem que sou, outros, que não sou. "O que sou?"

O ambiente está decorado. As paredes sustentam grandes quadros com belos motivos artísticos. A mobília, tapetes, assentos e almofadas enobrecem o colorido jardinal. Lustres, de raro material, iluminam os "mil cantos". "O que sou? Onde estou?"

Ao fundo falam coisas diversas. Poemas, canções, assuntos sem estórias. Trajetórias de vidas e almas em cumplicidade. A luz é intensa. Os perfumes dos corpos e dos tecidos exalam no ar. "O que sou? Onde estou? Por que estou?"

Olho ao redor e vivo o momento. É a magia dos sentidos no Homem que encontra os segredos do mundo. Há um relógio dourado que espera pelo tempo que não existe. Apenas transcorre e funciona impassível. "O que sou? Onde estou? Por que estou? Qual o nome?"

Percebo o chão. Ele existe. Quase me esqueci. O piso é deslumbrante e enigmático. Seus desenhos me transportam para diversas dimensões. Meus pés tocam a geometria do belo e eterno. Estou de sapatos. Calçados, eles estão lá. Apenas pés e pernas que me erguem. As cortinas balançam com o sopro do vento. Grandes janelas abertas ao frescor da primavera. Corro em direção a elas e estou lá. Pés e pernas. "O que sou? Onde estou? Por que estou? Qual o nome? O que faço?"

Uma grande porta se abre e as mãos se tocam frenéticas. Um espelho com moldura reflete o acontecimento. Observo-me, tenho olhos. Sou eu. Pareço-me comigo. Falam de mim. Estou nos papéis, nas tintas, nas letras, nas lendas, nas histórias, nas bocas. Orquestras me entoam. Busco-me nos lugares onde dizem que estou. Olho para cima e talvez, veja o céu. Grito, mas não me ouço. Apenas o som, a melodia e os acordes. As "estórias" e as músicas continuam em meu nome. O Homem, o mito ou deuses? Tudo está perfeito. Sorrisos, lágrimas, indiferenças e muitas narrativas. Assim é hoje e sempre será.

Meus pés se movem em direções opostas. Meu rosto já não é o mesmo. Modifica-se. Transforma-se. Estou confus... Estou exaust... Estou partindo. Não me vêem. Não me percebem. Não me sentem... Pés e pernas se vão!

Os instrumentos e as músicas persistem. É o legado que ficou no meu esquecimento, até o dia em que me verei novamente, em que nos veremos novamente... pés e pernas, por inteiro...


Nirma Regina Constantino

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