sábado, 10 de julho de 2010
Crónica Benzodiazepina
Eu, Abel
Eu, Abel, sei de Caim. Conheci-o, vivi-o. Se existe? Sim.
Se a história entre estes dois irmãos se cumpre da forma como a bíblia vaticina? Pormenores. Não importa. Se a bíblia é um manual de maus costumes? Claro que sim, mais do que isso, é o espelho da nossa humanidade, um aviso quanto aos nossos limites ilimitados. Um aviso à nossa natureza e capacidade de a ultrapassar, ou não. Um aviso à nossa forma de amar, à nossa forma de odiar. A bíblia é uma verdadeira alegoria de Darwin. Adão e Eva, um que nasce da costela do outro, tão refutado pelo movimento feminista… e afinal, apenas a duplicação da unicélula, defendida pela teoria evolucionista.
Mas Abraão... é efectivamente o único exemplo bíblico que me causa náusea, (e, eventualmente, a razão pela qual o seu nome rima com um palavrão). Porquê? Pela simples razão de ser o único fanático capaz de pôr em causa a vida de um filho como prova de fé! Kirkegaard, para mim o filósofo maldito, defendia que o estádio religioso só se dá quando desistimos do colectivo e o encontramos dentro, bem dentro de nós. A comunhão não é possível. Não se comunga fé. Essa é pessoal e intransmissível. Deus? Todos o temos, cada um o seu! O meu, se me pedisse uma prova de fé semelhante, deixaria de ser meu. Execução sumária seria o meu primeiro impulso face a Abraão. Não lhe perdoo o fanatismo. Não lhe perdoo a falta de amor à prole. Porque a prole é divina, a nossa prole e a de todos os outros. Esse é o grande princípio espiritual, mais do que religioso. Peguem em todas as doutrinas, enquanto dogmáticas, e brinquem aos soldadinhos de chumbo. Eu sou livre mais o meu deus. E Saramago é português!
Lucinda Gray
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