quinta-feira, 8 de julho de 2010
Le Nez
Atiraram-me uma pedra à cabeça. Ainda não consegui estancar o sangue. Atiraram-me com tanta força que pensei que morria. Corri para ti o mais depressa que pude. Procurei-te como um louco. Fui a todos os lugares que imaginei serem dignos da tua presença. Bati à porta de todos os nossos amigos, de todas as nossas fantasias. Já cansado, encontrei-te no lugar do jardim onde levas a passear os teus livros. O chapéu não te permitiu ver que eu – por baixo – morria derrotado pela cobardia de um ciúme. As minhas palavras soaram-te estranhas, como se um adeus estivesse a pegar nelas, tentando acalmar a dor que ainda não sabias. Mas a dor não é tua... É minha. A despedida fez-se assim, ansiosa, aos repelões, de olhos cheios de lágrimas. Quis dizer tudo em tão pouco tempo e o tempo traiu-me a vontade. Quis dizer o amor que senti durante toda a minha vida. Como o amordacei com medo de acordar do único sonho que guardei para mim, vestindo a roupa de quem os teus olhos procuravam no escuro.
Não é fácil, ser feio, ver-te beijá-lo naquela varanda.
Extraordinária ou virtuosa fosse a minha palavra, e os teus olhos ouviriam sempre mais que os teus ouvidos. Triste mundo o que me silencia. Triste vontade a minha de querer seu teu, assim como sou.
Hoje atiraram-me com uma pedra à cabeça. Da cabeça ao coração foi um instante. É sempre assim. Sempre...
DuArte
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