sábado, 31 de julho de 2010

Crónica Benzodiazepina


Caos e culpa


Por vezes não consigo deixar de considerar estranha a existência do acaso. Minto. Não posso deixar de estranhar a forma como nós, sociedade, humanidade, conseguimos “inventar” uma ordem, legitimá-la, ou não (uma vez que a legitimação de seja o que for pressupõe ordem), obrigamo-nos a cumprir, por vezes, o absurdo, e esquecemo-nos de que tudo o que erguemos assenta no caos. É sobre este caos que elegemos as nossas leis, regras, casas, crenças. Do sussurrado caos, aceita-se a sorte. Como se esta acusasse uma percentagem de caos pequena e ainda passível de ser reconhecível por nós, humanos. E por isso, milhões jogam nas lotarias, uns escapam a acidentes e outros morrem a atravessar a rua. Apesar de dois milhões de anos dessa constatação, espanta-me a forma pouco imaginativa como nos organizamos.
Pergunto-me, porque nos centramos tanto em torno do dinheiro versus prazer? Dinheiro corresponde a trabalho, a filas de trânsito, a sessenta e cinco anos de dores de cabeça… O prazer sabe a sol, a mar, a chás, a coco, a sopa de carne e a chicharrinhos fritos… Quando temos dinheiro, apreciamos verdadeiramente estas coisas?
Não sou preguiçosa, bem pelo contrário, envolvo-me apaixonadamente em cada projecto que abraço. Mas acho que tudo poderia ser bem diferente, caso houvesse uma filosofia do prazer que orientasse económica, política e socialmente a sociedade. Uma organização que apostasse no simples bem-estar. Contudo não poderemos ignorar que este último começa na cabeça de cada um de nós, e, para se ver o efeito de dois mil anos de cultura judaico-cristã, mirai o lugar que o prazer ocupa na nossa escala de valores. Sentado ao lado direito da culpa…
 
 
Lucinda Gray

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